Onde está o amor se ele não queima? Mal sinto o calor entre os dedos, minha pele estás a gelar, meus toques tateiam em vão na brasa, restos de um amor envelhecido, quase esquecido, enegrecido, preciso queimar para vivê-lo, acender este pobre coração, aquecer os invernos, tempos duros e cruéis, se há luz na escuridão, deve haver algo nas profundezas deste carvão, seco e inflamável.
Um temporal, um vestido listrado, um coração alado,
frio na barriga, olhares ao chão, arrepios em concessão,
lugar desconhecido, poucas falas, sentimento engasgado,
a linda morena e o homem desencantado.
Sem licença, sem permissão, todas as aspirações suprimidas, cuidado, chão frágil, vidro quebradiço, pisar devagarinho, cochichar no ouvido, silenciar o coração golpeado, abraça-me, deixe-me forrar o caminho, sou as mãos que lhe segura, os olhos na escuridão, prometo ser o nada que precisa, mais uma vez, respire, sinta a brisa acariciar seu lindo rosto pela janela, enquanto costuro todas as feridas abertas.
Trancados, abafados, ares compartilhados, covil humano fechado, prosas, lembranças, aquele dia, o momento inesquecível, agora, risos, sorrisos, malvadezas, malevolência,
confinados, o instinto natural grita alto, sei lá, jazz no rádio, celulares desligados, pandemia condena o mundo, não toca aqui, onde toco, só dois e coisa alguma a fazer, quase.
Vou vadiar, cortejar minha solidão, cultuar-me no espelho, tentação em batom vermelho, intrínseco,
aquele perfume, dia do casamento, quebrado, despedaçado, fiapos, tristeza em véu branco e grinaldas,
sapato salto alto, vestido elevado, blusa solta, colo visto, veneno em doses letais, intencionada,
uma dose única de Shakespeare, romance perdido, sereis alguém que não se importa, noite de sorte.