Perdeu-se a essência, o perfume da rosa, o beijo do beija-flor, o sol do girassol,
vaporização da alma, eclipse da personalidade, obliteração do eu mesmo,
não há reflexo no espelho, não há sorriso que perdure em lábios contraídos,
quem agora me domina, parece-me comigo, mas é só um desassistido.
Passarinhando, amanheço cantando, benquisto, verde colorido, empoleiro-me aqui todos os dias,
embelezo a janela, dou vida ao telhado, lhe dou prosa, lhe arranco risos, pios e voos, mil vezes por dia,
entro e saio deste recinto, alpiste, linhaça, girassóis e uma violeta, sorte deste pequeno cheio de peninhas,
saio de noitinha, não sou o cuco, parasita de ninhos, veja, sou um cortês periquito, australiano engraçadinho.