Como pode este passarinho cantar, se tem as asas quebradas e o ninho destroçado?!
pareces até que voa mais alto, os piados parecem gritos, afinados, como vozes em uníssono,
lá vai, gravetos no bico, arquiteto das casinhas de palitos, não há trauma, apenas reinício,
a pequena ave de peninhas, debilitado e sem família, segue sobrevivendo a pedras e tiros.

Bang, não há mais reflexos das estrelas noturnas no mar, nem os raios de sol bronzeiam as rosas,
os animais não desbravam a terra selvagem, o vento sopra fraco, poupando as folhas, a natureza está falha,
o ar está pesado, denso e impuro, os insetos sumiram do quintal, os humanos risonhos, não sorriem mais tão fácil,
as Violetas perderam suas inúmeras cores, os passarinhos cantarolam sem som, o amor, já não aquece os corações.

Passarinhando, amanheço cantando, benquisto, verde colorido, empoleiro-me aqui todos os dias,
embelezo a janela, dou vida ao telhado, lhe dou prosa, lhe arranco risos, pios e voos, mil vezes por dia,
entro e saio deste recinto, alpiste, linhaça, girassóis e uma violeta, sorte deste pequeno cheio de peninhas,
saio de noitinha, não sou o cuco, parasita de ninhos, veja, sou um cortês periquito, australiano engraçadinho.

Quando serás minha? Se já és. Quando dividirás o ar? Se já o respiras sem fôlego. Quando enlouquecerás?
Se já não achas o juízo. Quando serás paixão? Se já queimas em brasa. Quando beijarás com sede essa boca?
Se todo o sal da língua já secaste. Quando serás o véu da cama? Se já te deitastes em pensamentos inquietos.
Quando olharás em meus olhos? Se já não olham a mais ninguém. Quando será minha ilha? Se já és terra, mar e fauna.

Invisível, quase indetectável, tomou forma, jeito, tsunami em água parada, olhos de jabuticaba,
linda face de sardas temperadas pelo sol, pele mergulhada em leite, corpo é fascínio, um deleite,
tortas nuances, forte maturidade, a menina mulher de voz rouca tranquila e a rara sintonia afinada,
e então, barreira quebrada, o homem passarinho e a mulher violeta, meteoros e cometas.

Enterraste o passarinho, este dançaste as asas tão bonito, piaste até as últimas batidas,
coração em agonia, pousaste onde não podias, olhaste pela janela, cantaste por tantos dias,
fatalidade, não foste pedra a atingir-te, nem fogo a queimar-te, foste somente lugar ocupado,
dentes afiados do felino a fincar penas, tudo que querias, apenas a linda Violeta.

Um ano a mais de vida, um a menos, cada dia, um passo ao finamento, vivendo, morrendo, lampejos,
a beleza deteriora-se, vejo as escolhas da trajetória para o sprint final, sempre tarde, quando se vai cedo,
separa-se os ciclos, fases, em todas, meu sorriso, o perfeito disfarce, lobo, passarinho, eterno bicho do mato,
discreto, sereno, se eu pudesse voar, facilitaria, e não seria eu, lá, rompendo o laço no fim da corrida.

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