Teus olhos me veem, tentam enxergar, a forma, o jeito, aspecto deslumbrativo, fascínio,
pintura restaurada, tantos pincéis foram quebrados, borrando arte precária, mal acabada,
mesmo assim, as cores dilataram suas pupilas, tela líquida em parede neutra, paixão novena,
veja, combinas com a mobília, decoras o interior, despejas cor em cinza frio, desejos, calafrios.

Cabal, pendurado, dias, semanas, meses, então, estás tudo a desbotar, pensarás ainda, melhor não há,
ingênua amante da arte, romance, broches e penduricalhos, não percebeste, adquiriste um Vermeer falso,
pobres olhos, círculos carentes, descontentes, ávidos pela beleza imaginária, fuga simples da infelicidade,
agora, arregalados, abrem-se mais, a cada cor de tinta desprendida da tela boêmia e moldura frágil.

Vistes, teus olhares agora enegrecem, perdestes o brilho, não tem mais enfeitamento nesta parede, pingos de tristeza,
a besta pintura em mãos, nem sabes mais por que compraste, desenhos abstratos, outrora realistas, impressionistas,
há impulsos para jogaste ao chão com força ou poupar, engavetar, último apego, suspira o difícil desprendimento.

Parede vazia, mar branco tedioso, onde havias um admirável plano colorido, és agora, embaraçosamente sem graça,
ainda podes sonhar, refletir, cerrar olhares, sua memória em breve esquecerá, a linda pintura que colocaste lá,
assim sendo, outros quadros irão decorar, pode ser uma réplica perfeita ou quem sabe, uma fotografia real.

Poesia por J.G.B

Pintura "Beautiful Eye Dripping Rainbow" por OlechkaDesign