Pedaço de mim, deixeis, caíste a teus pés, a amável e deleitável parte, entregastes,
aqui jaz, enamorados, egoísmo conjecturar, que meras parcelas de nós, tanto desafogara-nos,
guarde este meu miserável fragmento, nas profundezas do seu ser, alimente os seus demônios, sem prazer,
naufrague em lágrimas, afogue lentamente a nossa imagem, as lembranças desse amor de pouca coragem.

Embebidos pelas pequenas porções diárias de felicidade, feitas de pequenas coisas, tenros detalhes,
não houveste juras de amor, sobraste, cumplicidade, sinceridade, complexidade, uma paixão inevitável,
tristemente, fatias de nós, não nos tornaram inteiros, pedaços não satisfazem toda nossa fome de amar,
cada lasquinha de nossa incompletude, um sonho realizado, uma visita ao céu, um romance desregrado.

Partes, partido, partiu, saudades a mil, faltastes apenas, um bocado mais de libertinagem, plenitude, liberdade,
na teoria, tão fácil receitar, uma mexida de pitadas divertidas, colheres de sangue quente e massa temperada, voilá,
o amor desejado, genuíno, recheado e sem vaidade, afortunados aqueles que provam, o gosto e textura inesquecível de amar.

Afrodite aplaudiria, esta bela oferenda, sincera, comemo-nos, bebemo-nos, cuidamo-nos, poetizamo-nos,
corações delinquentes cantaram um hino ao amor, coramos sem lençóis, apaixonamo-nos sem medo, impedimentos,
apenas pedaços bem-feitos, não formam casais de porta retratos, lamentamo-nos, não ter amado mais, quanto tanto se amou.

Poesia por J.G.B

Pintura "El Beso" por Francesco Hayez