Não posso ficar aqui a amar-te, apesar de ti, ser meu lugar, nunca tive chance de fazer lar,
és como flutuar sem ter pouso, viver sob asas dos sonhos, sem o descanso merecido na paz do amor,
queimamos todo o carvão num dia, inundamos em outro, esperando que o sol apareça e renasça o fogo,
a combustão dessa paixão que nos consome, reinicia o processo sempre na outra manhã, onde não estamos.

Não posso ser aqui, quem sou, desejo ser, então conheces uma pequena fração de um homem inteiro, conjecturas,
um prelúdio de quem tu mereces ter, a melhor parte de mim sendo servido em bandeja, posta a mesa, carnes e cartas,
enquanto músculos e filés nus alimenta-nos, um jogo duradouro é desenfadado, espera-se um ás na manga que nunca vem,
quem jogas o jogo do amor, imprevisível, às vezes, impossível, sabes que geralmente, és inverossímil.

Tu não pode ser aqui, o que totalmente és, teus territórios estão divididos, o coração que diz que é meu, sofre calado,
sabes que está entrincheirado na fronteira, tentando defender a própria posição, teu corpo que descansas em outro, move-se,
tentando avançar em terreno desconhecido, uma guerra para conquistar a própria felicidade, enquanto a alma é alvejada.

Se não posso, tu não podes, logo não podemos, certamente, as obviedades não consideram a nossa volatilidade, os sentimentos recíprocos,
a indefinição do verbo perfeito de amar, namorados sem domingos à toa numa tarde, condenados por crimes iguais, amar demais quem lhe ama,
somos quem podemos ser, por agora, uma história sem fim, nem começo, a beleza do amor em terras de Verão, garoando os medos e receios.

Poesia por J.G.B

Pintura "Endless Love" por Alfred Gockel