Poesia -Pai, Meu Véio - J.B.G

Pai, Meu Véio

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Raposa de Cima, Iguatu, Ceará,
matava a fome na caça, e o campo era lar,
arroba de algodão, milho, um sol de lascar,
Teiú que fugia, tinha cão pra pegar, tinha burrinho que empurrava,
e cavalo que subia em cascalho, todo dia o homem amanhecia,
voltava para sua casa de barro.

Em 73, por um sonho de vida, se mudou para São Paulo,
envolto de amigos queridos, serviu clientes em pizzarias,
garçom por um salário-mínimo, gentil e bem-humorado de graça,
para ser bom, não precisa ser pago, voltou pra terrinha, a fim de trazer uma flor de lá,
era a futura esposa, um broto, a companheira de quase 50 anos, se soubesse, traria de novo,
a história que escreveram, juntos amadureceram, eternos companheiros.

Filha, depois filho, forrós, farra e bebida,
eitha velho faceiro, dava muito trabalho para a rainha,
a sua esposa querida, era banho gelado e latrina pra curar,
quando chegava atrasado do trabalho, ressacas no outro dia,
era um homem que vivia fácil, os problemas da vida,
não sabia o que o futuro lhe reservaria.

De tanto farrear, a saúde lhe custou, aposentou,
cedo parou, mesmo assim trabalhou, era bico aqui, troco de lá,
completar a renda familiar, não era muito, mas nunca faltou, ajuda aos filhos,
comida em casa, conta paga, ele se gabava, nunca atrasava, o homem honesto,
que já fora enganado, sonhos passados.

Envelheceu, viu afilhado, depois neto crescer ao lado,
era riso frouxo de coisas bobas, um peido, um arroto, bicho bobo,
ria até outro dia de algum parente com uma grande barriga, como se ele fosse magro,
eu diria, mas também ria, porque ele era alegria, simples, humilde, seu sonho era sua própria casinha,
o dinheiro não deu, pois bem, não comprava nem roupa nova, sua renda era só sobrevivência, uma pena.

Já não andava fácinho, nem corria, mas aguentou até pandemia de COVID,
toda consulta no médico, era mais um probleminha, tomava 12 remédios por dia,
cantarolava enquanto esquecia, quem era esposa ou filha, o cérebro já não respondia,
mas lembrava de coisas tão antigas, queria ir para a casa, talvez ele já soubesse,
que as portas do céu estavam abertas, era sua hora, aqui já não fazia sentido.

Adeus Pai, eu lhe deixo partir, vá em paz,
saudades, guardaremos com amor a sua imagem.

Poesia por J.G.B

Essa poesia não tem nenhuma interferência de IA (inteligência artificial). Adepto da criatividade e expressão natural humana.

Arte própria, pai deste que escreve.

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