Este Homem

E este homem surgiu ao mundo, trepidando, em nome do amor, do garçom e da costureira,
nem chorou, nem respirou, a vida prematuramente lhe ensinou, que lutar era o caminho, caminhou,
tinha tudo quando não era quase nada, persistente, inocente, meio delinquente, brincou, brigou, beijou,
voou sem capa e os ossos concretou, andou sobre rodas e os dentes asfaltou, experiência não lhe faltou.

E este homem amou pela primeira vez, muitas primeiras, considerando as que nunca conquistou,
era bendita, tornou-se maldita, a cabeça virou, até o cinza tinha cores, cegamente se apaixonou,
suas primeiras poesias desabrocharam, seus goles alcoólicos aumentaram, descolado e com o bolso furado,
trabalhou e uma miséria ganhou, não precisava de muito, os outros presenteou, nem as contas o pobre pagou.

E este homem mudou, um filho cabeludo e de bigode precoce criou, sozinho ficou, o amor duramente lhe decepcionou,
mudou de emprego, decidiu ser chefe de si, estudou, se virou, a renda aumentou, seu fanatismo pelo futebol piorou,
outras lindas mulheres amou, melhores, amores maiores, nada vingou, a antítese do sucesso, em quase tudo, fracassou.

E este homem está em harmonia, penteando a vida com um pente fino, quebrando com dor todos os fios,
para sorrir, este chorou, para latir, este miou, para dormir, um caráter mastigado e intocável formou,
vive sem culpa, sem rancor, policiando-se, importa-se em ser honrado, mesmo se mil vezes, a vida pisoteá-lo.

Poesia por J.G.B

Pintura "Landscape with man walking in the forest" por Laurentiu Ababei