Poesia - Declínio - por J.B.G

Declínio

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Deixa ir, há rocha nos ombros, pesares no olhar, amor a definhar-se,
uma voz rouca que grita, esperneia, sequer ouvida, logo silencia-se,
lágrimas inundam a face, estás o pó, o resto, nenhuma força na fadiga,
um cadáver rastejante, a saborear devagar os seus piores dias.

Um amor a cobrar-te, um trabalho a sufocar-te, rotinas desconfortáveis a castigar-te,
uma morte por dia, esgota-se todas as energias, mal respiras, viver para quê? Pura utopia,
sobreviver é a muleta de todos os dias, soltaste, caíste, do chão íngreme não passaste, ficaste,
total incapacidade, hematomas entregam tristezas, memórias doloridas, eternas cicatrizes.

Arrasta-te a face na pedra fria do chão, sangue a gelar, coração silencioso, bate devagar,
faleceste agora, sempre nesta hora, uma vez ao dia, um dia por vez, mais uma vez, ilusão de paz,
déjà vu angustiante, ressuscita-se ao raiar o dia, óbito mais tarde, é certo, os mesmos motivos.

Tudo ao redor é surdo, é cego, é mudo, és assim tudo tão terrivelmente incompreensível?
outra vida sonhaste, aquela que os dias não matam, não espremem com as próprias mãos,
amores intensamente leves, trabalhos amados, momentos aveludados, sonhos realizados.

Poesia por J.G.B

Pintura "Some Women Cry" por Femeitaly

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