Moça bonita, aprecie minha incapacidade de decifrar as linhas, vejo-a desamarrar-se,
soltar a corda, aliviar as pedras das costas, distraindo-se com o abandono do juízo,
rindo de ninguém, sorrindo para si, dando voz a qualquer música, flertando com a vida,
sabe sofrer, nem parece aquela menina, chorosa, lágrimas de um passado, salgado.

Há uma nuvem a passar-te, levar-te pela ponta, explorando-te, terceira visão do plano,
fitando a obra de arte abstrata, devaneio de um casal em valsa, tinta envelhecida,
poço de água em finas camadas coloridas, há graça, contém tristeza, a alma desenha,
perfeição na face, fina silhueta, vermelho vivo no coração desatinado, tons negros de fundo.

Esta pintura inacabada não faz desfeita, tem cores, sabores, desejo, feitas por mãos de sonhos,
desfazem o leve sono, até tem melodia, cordas aranhadas de um violão, um sertanejo raiz do bom,
arte crua, pinceladas cheias de conexões, a alma brinca, és autora, personagem, memória enquadrada.

És arte, querida Violeta, és humildade na força, dona da razão, da paz, calor da primavera,
aquece no inverno, quebra gelo, transporta energia, transborda, fácil alegria, florescente beleza,
nem pareces ser a pequena que és, tanto que tua cor espalha, estás a cobrir tudo, também seus segredos.

Poesia por J.G.B

Pintura "Deep Dreams" por Anita Nowinska