Poesia - Fácil Alegria - por J.B.G

Incompleto

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Não sirvo a nada, não caibo em ninguém, coração vagabundo, moribundo,
não sou o tecido justo que amacia, nem o animal perspicaz que se adapta,
pareço-me com o fogo que se alastra nas folhas secas, naturalidade destrutiva,
fervente, deixo cinzas, não há fênix no meu deserto, muita poeira, um inseto.

Inseto, a construir castelos solitários na terra infértil, arapuca se pisaste,
um entre bilhões, servindo-se do fim, alimentando pragas, pingo sou, nada lhe ofereço,
sentinela da prole, vivendo para sobreviver, restos substanciais, tampouco conhece-me,
repudia-me, não sou a dieta do cardápio, nem meu aspecto lhe agrada, um mero espantalho.

Espantalho, observador, espírito a meditar, inconsciente líquido, mente equalizada, livre,
a mesma face que atrai animais, rodeia as flores, subitamente lhe afasta, escárnio disfarçado,
não sou ninguém para saber, montes de palha velha a sussurrar, aparição do caricato fantasma.

Fantasma, presente se invocado, chama-me, deixe-me ser um qualquer, preenchimento temporário,
nunca fui para todo sempre, embora, eterno a vaguear, ocultar, a miragem perfeita de um ser incompleto,
as reflexivas palavras servirão, mas não haverá morada em nenhum lugar, pois, este ser, nada completará.

Poesia por J.G.B

Pintura "The Ghost" por Emilio Villalba

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